A poesia e a fotografia se irmanam. Conjugam-se em imagens e as transmutam em sonhos, viagens, quimeras. Aqui, quem ama as imagens, escritas, sonoras, fotografadas, experimentará todas as emoções possíveis, pois tudo é vida e nos move, nos arranca da inércia. Poemas, declamações, ensaios, fotografias, trabalhos meus e de gente querida, terão aqui um lugar para instalar-se, mover-se, provocar-se. Espero que seja para vocês tão prazeroso ver, ler e ouvir, como é para mim fazê-lo! E que seu mergulho nas imagens seja lindo, pois estamos carentes de boniteza!! 

Janelas da pandemia

Amo as palavras! Amo-as por existirem, amo-as pela sonoridade, amo-as pelo ritmo, mas, especialmente, amo-as porque instilam, insinuam imagens, são uma sorte de fotografias, todas e cada uma, diferentes nas projeções que fazemos! As palavras, como as fotos, criam, imediatamente, um sem-número de imagens, todas retidas nos nossos baús de memória!
Tomemos a palavra “janelas”. Ora, dirão os apressados, palavra comum, comezinha, banal, surrada até, inclusive pelas imagens que suscita. Não é assim? Não! Palavras não têm significado imutável, nem tampouco estão livres dos deslocamentos e das metamorfoses, de acordo com a vida lá fora e cá dentro…
A pandemia do coronavírus nos ressignificou a palavra “janelas”… Olhar através delas passou a ser uma forma de conectar-se com as pessoas, um escape da vida “entre grades”, um atirar-se desesperadamente para o mundão lá fora, uma voraz necessidade de luz e liberdade! Presos e presas em ambientes que se foram tornando jaulas, as janelas nos facultaram a sensação – efêmera, passageira, mas impreterível – de ser livres. Em meio aos mesmos móveis, aos mesmos quadros, às mesmas cenas, aos mesmos rituais, as janelas foram uma ráfaga de ânimo, centelhas diárias de vida, diante da atonia de nos vermos alijados da balbúrdia deliciosa que são as coisas lá fora…
Contudo, foram essas “janelas” semelhantes para cada um e cada uma de nós? O que sentíamos (e ainda sentimos) através delas? O brilho exagerado do Sol, as nuvens ameaçadoras e as gotas de chuva, vertendo pelo vidro? Diáfanas imagens, turvas, algo ocultas, algo desveladas, através das cortinas? Rostos, corpos, grafites, dilatando-se e desfalecendo ao mesmo tempo em nossas pupilas? Voos de aves que nos carregam e nos enlevam, fantasia ancestral do nosso desejo de ganhar os céus? As águas do Mar inundando o Sol, cada vez que ele mergulha, pra voltar glorioso na manhã seguinte? Débeis luzes do edifício em frente, que saltam em nossos olhos, em meio ao breu da escuridão pandêmica? Cenas quase insignificantes, ordinárias, do cotidiano, que se convertem em pura épica, apenas com um leve toque no botão?
As janelas nos figuraram tudo isso e muito mais, desenharam as aberturas que nos reconectaram com o mundo, que nos salvaram da tristeza constante, que nos agarraram à vida, que não nos permitiram fenecer! As janelas fizeram com que o mundo nos invadisse, descerraram os véus que não nos permitiam ver, sentir, tocar as coisas, desnudaram imagens, sons, cheiros, gritos, vida enfim!
Percebem porque amo as palavras, transmutadas em imagens? Palavras, como as fotografias, reabrem e ressignificam o mundo. A fotografia, assim como uma janela, é poesia composta por nossos olhos, dela saltam imagens e sons, figuras e ritmos, formas e cenas. Nossas fotos são, todas elas, poemas em aberto, prestes a serem reescritas por quem as veja, as leia, as sinta…
Apresentamos a vocês então nossas fotos-poemas!
Márcio Funcia

Ana Ferraz, antropóloga e videasta

André Viana, economista/sociólogo e passarinheiro

Carla Christiani, fotógrafa e professora de iluminação, captação e composição de imagens (fotografia)

Joana Barros, socióloga e curiosa das imagens do cotidiano

Luís Ribeiro, sociólogo e fotógrafo amador

Márcio Funcia, professor de literatura e fotógrafo iniciante

Patrícia Chavez, cientista Política e fotógrafa amadora

Janelas

Salto.
O olhar atravessa,
feito arremesso,
livre, solto, lírico,
a janela.

Os mundos 
se espalham,
se espelham, 
nessas passagens.
encontram-se, 
confrontam-se,
no mistério da escuridão,
na esperança da luz.

São quadros
que emolduram paisagens.
Horizontes
que são pontes,
testemunhas 
das palavras e pensamentos
caminhantes.
Sentimentos tão únicos
e universais.

Janelas, para além das coisas ordinárias,
singelo instante, talvez distração, 
vaga respiração, susto, alucinação,
realidade, a visão extraordinária.

Claudio H. Ribeiro


2 respostas para “Janelas da pandemia”

  1. Muito bom encontrar esse espaço que une belezas de fotos e de poemas passados como um café fresquinho pelos olhos de Márcio Funcia. Já estou seguindo.

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